domingo, 6 de outubro de 2013

O pequeno Kunimatsu embarca rumo ao Brasil

 

A exigência maior para imigração ao Brasil era de que somente grupos familiares de pelo menos 3 pessoas (marido, mulher; filho legítimo ou adotivo; irmão ou sobrinho) poderiam imigrar-se. Portanto, Kunimatsu-san não poderia embarcar sozinho, sem os pais; estes não desejavam vir ao Brasil.

Era comum então que se formassem “famílias” somente com o intuito de satisfazer essa exigência. Assim, bem ao estilo “jeitinho brasileiro”, eram realizados casamentos arranjados, e também filhos eram “adotados”.

Um casal vizinho de Kunimatsu, chamados de Ensaku e Tomeno Hajii,  pretendiam vir ao Brasil, e como não tinham filho, estavam impedidos de vir.  Foi feito então o arranjo : : “adotaram” Kunimatsu, e assim formou-se o grupo familiar minimo exigido para emigrar-se.

Tomeno era uma mulher já com 28 anos, casada,  e ainda não tinha filhos, o que não era comum na época. Há a possibilidade do casal ser impossibilitado de ter filho biológico, um dos dois era estéril. É por isso que não tiveram filhos aqui no Brasil, consequentemente a  geração do meu pai não teve tios nem primos.  

E foi então nesta condição, de “filho adotivo”. que Kunimatsu, aos 12 anos,  em 28/08/1913, embarcou no navio Teikoku Maru com destino ao Brasil, desembarcando no porto de Santos em 24 de outubro de 1913.

partida_de_Kobe 1930 MHIJPartida de um navio de imigrantes, em Kobe, Japão, 1930 . Fonte : Museu da Historia da Imigração Japonesa.

Os  imigrantes “adotivos”

Era pratica muito comum fazer adoção arranjada somente para fins de imigração. No inicio da corrente migratória, até 1915-16, 20% dos imigrantes eram “adotivos”, rapazes ou moças solteiras, que vinham sozinhos para o Brasil. As vezes, vinham encontrar demais familiares que já estavam aqui. 

A “casta” dos adotivos sofreu muito, por que ao chegar no Brasil, o casal que “adotou” poderia simplesmente abandonar o adotado, deixando-o completamente sozinho. Por acasião dos casamentos arranjados (myai), os “adotivos” eram preteridos, pois as familias das pretendentes procuravam candidatos entre os rapazes em “situação familiar normal”, e desconfiavam dos “adotivos”, pois não sabiam quem eram, de qual familia na verdade pertenciam. E também pesava o fato do adotivo não ter muito compromisso com os “padastros”, e vice-versa. Por fim, os pais das futuras noivas não queriam que suas filhas se casassem e tivessem sogro e nora desconhecidos.

Há registros de que os adotivos poderiam ter sofrido bullying devido a sua condição.

Por tudo isso, há indicios de que a prática de “adoção arranjada” foi proibida no Japão a partir de 1916, após  este ano era raro encontrar registro de embarque de “adotivo”.

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